13 de jul. de 2009

No radinho

Cruzeiro 0 x 3 Atlético

Uma verdade acerca do ser humano é que nada é mais fácil do que se acostumar com o que é bom e, verdade seja dita, a pós-modernidade tem sido pródiga em disponibilizar “soluções facilitadoras” para a vida de todos. No caso do torcedor de futebol, o advento do serviço de “pay-per-view” disponibilizou praticamente toda a temporada dos grandes clubes para transmissões ao vivo em qualquer lugar do país. Depois que o sujeito torna-se usuário do produto, não quer saber de nada menos do que ver o jogo do seu clube no momento em que ele acontece. Estamos muito mal acostumados.

O interessante é que não faz muito tempo, as únicas transmissões ao vivo das partidas do Atlético se resumiam aos jogos decisivos ou, eventualmente, algum clássico jogado contra adversários importantes de outros estados. Atlético x Cruzeiro? Nem pensar. Esse era o jogo do radinho: Willy Gonser um tempo e Alberto Rodrigues na outra metade, fosse com o alto falante colado no ouvido sentado na arquibancada de cimento do Mineirão, fosse em casa sentado no chão do quarto ouvindo a narração com os amigos.


Faço esta introdução porque, estando no interior da Bahia a trabalho, fica difícil acompanhar os jogos do Atlético a não ser que seja pela bolinha da Globo ou em algum site na internet. Hoje, para variar, resolvi acessar o rádio online e deixar a narração fluir enquanto terminava as minhas tarefas. Ouvir o jogo pelo rádio é uma parada engraçada: qualquer um que tenha alguma experiência em estádio de futebol sabe que a transmissão dos radialistas está mais para a ficção do que para a descrição do fato real. Ademais, creio que pelo menos metade do trabalho de construção da cena é destinada ao cérebro do ouvinte. Um exemplo: senti um certo incômodo enquanto via os dois primeiros gols do Atlético, mas logo me dei conta de que estava desconfortável porque, enquanto ouvia a partida, imaginava o jogo acontecendo com as equipes ocupando os lados opostos do gramado e os gols haviam sido previamente concebidos desta maneira por mim.

Mas, deixemos este papo para lá e falemos da vitória do Atlético. Era o time reserva do Cruzeiro? Sim. A expulsão do Zé Carlos com 7 segundos do primeiro tempo ajudou? Muito. Mas, analisar a partida a partir destes dois fatos nos levaria a conclusões incompletas: verdadeiras, talvez, mas incompletas. O Atlético não vencia o seu maior rival há 12 partidas, o técnico adversário nunca havia perdido um clássico e o Roth nunca havia ganhado um. Vínhamos de dois resultados complicados com duas atuações medíocres, uma pressão enorme que era produto das circunstâncias previamente apontadas e da desconfiança e impaciência de uma torcida que vem sendo muito mal tratada neste século XXI.

Vencemos e foi muito importante. As coisas deram certo para o lado alvinegro desta vez e creio que isto trará uma certa tranqüilidade para o desenvolvimento do trabalho nestes dois ou três dias que antecederão outra dificílima partida: o São Paulo no Mineirão. A liderança está de volta, um tabu está quebrado e podemos recomeçar a escrever a nossa história.


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2 comentários:

Anônimo disse...

Ai onde ce ta, no interior da bahia, não tem pay per view nao?

Mateus

LF disse...

não tem não. aliás, deve ter, mas a gente não tem acesso. rsrs

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