25 de ago. de 2012

Sangue frio

Atlético 3 x 2 Botafogo

Depois de mais de dois anos longe dos estádios de Belo Horizonte, foi com grande emoção que iniciei minha caminhada nos arredores do Independência no domingo passado. De pé, em frente ao Chef Túlio, enquanto aguardava a chegada dos demais companheiros, a primeira diferença a ser notada em relação às temporadas passadas era a atmosfera positiva que envolvia o ambiente. Não encontrei aquele clima tenso que tomava conta do entorno do estádio nas horas que antecediam as partidas do Atlético neste século XXI. Clima de alegria e comunhão com o time que foi aumentado quando o ônibus trazendo o time apontou na avenida Silviano Brandão e foi envolvido e celebrado pelos torcedores que entoavam o hino do clube.


De volta ao Gigante do Horto

Dentro do estádio, nos dirigimos instintivamente para o mesmo local que ocupamos ao longo de todas as campanhas que acompanhamos no Gigante do Horto: o cantinho junto ao gol do placar. E foi ali que vimos umas das partidas mais emocionantes do Brasileirão 2012. O Atlético começou nervoso com a marcação sob pressão do Botafogo, cometendo sucessivos erros na saída de bola. E foi aproveitando um destes erros que o adversário saiu na frente: Andrezinho aproveitou uma sobra e empurrou a bola para dentro do barbante.

Contrariando as máximas do passado recente, o Galo não se abateu com o gol sofrido e cresceu no jogo, aos 42 minutos Ronaldo fez um lançamento primoroso para Jô, que matou no peito e finalizou, Jefferson defendeu mas Escudero completou para a meta, empatando a peleja. O empate foi um resultado justo para o primeiro tempo.

A segunda etapa começou de uma maneira completamente distinta: o Atlético voltou a apresentar o futebol vistoso deste primeiro turno e sufocou o adversário até anotar o tento da virada aos 8 minutos. Lançamento magistral de Leonardo Silva, assistência não menos impressionante de Ronaldo para finalização de Jô. Os próximos minutos deram a impressão de que um massacre estava a caminho mas, surpreendentemente, os cariocas começaram a recuperar o controle emocional e a oferecer perigo novamente. O nervosismo aumentou, especialmente após algumas presepadas da nossa zaga, que para desespero do torcedor (em especial aqueles no nosso setor, que viam os lances em primeiro plano) tentava livrar a bola dando chapéus nos adversários e passes de letra. Aos 35 não teve jeito, Seedorf lançou Rafael Marques que sofreu pênalti de Leonardo Silva. Andrezinho cobrou e empatou novamente o jogo.

Naquele momento acabei me sentando e fiquei observando o placar, tentando encontrar consolo na regularidade da campanha e no fato de que o campeonato era longo e que pontos seriam, inevitavelmente, perdidos. Era a mentalidade atleticana da primeira década do século XXI tentando se apoderar dos meus pensamentos. Já eram 42 minutos quando, de repente, Neto Berola arrumou uma escaramuça na lateral. Na disputa de bola a redonda sobra para Carlos César que dá um passe de calcanhar e Berola penetra livre pelo lado direito da área. O estádio inteiro prende a respiração. Cara a cara com Jefferson - que fazia grande partida - o baiano dá uma cavadinha, a bola sobe e caminha lentamente em direção ao gol. Nós, do lado oposto do campo, só conseguimos ver a rede estufando, o que foi mais do que suficiente para a explosão de alegria que veio em seguida. Era o gol da vitória - e de maneira inesquecível!

Realmente, as coisas mudaram. Ainda não consigo ver o repeteco do gol de Berola sem ficar nervoso com a bendita cavadinha. Vinda de um jogador que estava há 100 dias sem disputar uma partida, ainda não consegui decidir se a magistral finalização foi pura genialidade ou uma total irresponsabilidade. A única certeza que ficou foi que este Atlético 2012 é um time perigoso e deve ser temido. Sim, estamos brigando pelo título.


Caldeirão alvinegro

Para finalizar, um pitaco sobre o clássico. Dadas as circunstâncias, o Atlético entra como favorito e devo dizer que se jogar o futebol que tem jogado normalmente, é provável que saia vencedor. Entretanto, como todos sabemos, não se trata de um jogo comum e deveremos ter todos os elementos emocionais que, por vezes, superam a técnica e levam o mais fraco a derrotar o mais forte. O mais importante para o Galo é conseguir deixar todas as tentativas de desestabilizar o time fora de campo e procurar impor o seu jogo com a frieza que lhe tem sido peculiar. É mais um jogo difícil em um campeonato longo e o que importa são os três pontos. Todo o resto podemos acertar num outro momento.

Com relação à torcida única, o que eu tinha a dizer já foi dito em um post de 2009 (o link está logo abaixo). O Clássico como espetáculo não existe mais. Quem viu, viu, quem não viu, não vê mais. Parabéns a todos os envolvidos.

http://galoforte.blogspot.com.br/search?q=retrocesso

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