4 de set. de 2009

1979: a desistência

Em matéria de registro dos campeonatos brasileiros (e demais campeonatos realizados no Brasil e em outros países), não há site melhor do que o da RSSSF Brasil, cujo link está aí ao lado. O Globo Esporte.com lançou o seu FUTPEDIA há alguns meses, cujos registros das partidas são mais completos, mas abrangem apenas a Copa do Brasil e o Brasileirão e, portanto, cobrem um período de tempo mais curto do que o da RSSSF.

Pois foi numa dessas visitas ao RSSSF, buscando alguma informação específica sobre o Brasileirão que, ao observar a tabela do Campeonato Brasileiro de 1979, descobri que o Atlético havia abandonado o torneio numa de suas fases finais, tendo perdido para o Goiás e para o Inter por WO. Como o site não trazia maiores informações acerca das razões para a desistência alvinegra, recorri, num dos meus momentos de folga, à hemeroteca da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais a fim de solucionar a misteriosa desistência atleticana.

De posse da coleção de jornais "O Estado de Minas" de dezembro de 1979, pude entender, em meio aos anúncios do TeleJogo Phillips, da Loteria do Galo ("Colosso Milionário") e de empreendimentos imobiliários na Cidade Nova, o que se passou naquela temporada, que acabou com o Internacional como campeão invicto. As regras únicas e confusas do torneio, tradição brasileira até 2003, incluíam uma primeira fase disputada por clubes de todo o país, exceto os do Rio de Janeiro e de São Paulo, que entrariam na segunda fase. Guarani e Palmeiras, campeão e vice da temporada anterior, entrariam na terceira fase. São Paulo, Santos, Corínthians e Portuguesa solicitaram à confederação que também entrassem no torneio apenas à partir da terceira fase. Com o pleito negado, desistiram de disputar o brasileiro.



Ao fim da segunda fase, um impasse: como a colocação final das equipes na chave do Atlético só seria decidida numa partida na sexta-feira à noite (Campinense x Coritiba, dia 30/11), a CBD havia comunicado aos clubes mineiros que caso o Coritiba terminasse em primeiro, o Atlético formaria o grupo R junto com Inter e Cruzeiro - campeões em suas respectivas chaves - e Goiás, que havia sido vice na sua. Neste caso, o clássico seria realizado no domingo, 02/12, caso contrário, nem um dos dois clubes jogaria naquele dia. Como o Coritiba bateu o Campinense na noite da sexta, o clássico foi realizado na tarde do domingo, tendo terminado empatado em 0 x 0.

Naquela altura, os clubes ainda não sabiam como seria a segunda rodada, prevista para o meio da semana. Na segunda-feira, pela manhã, a imprensa é informada pela direção de futebol da CBD que as partidas entre Cruzeiro e Inter e Atlético e Goiás seriam ambas realizadas no Mineirão, sendo que o Goiás chega a entrar em contato com a FMF para agilizar a logística da viagem para BH. No fim da tarde daquele mesmo dia, para espanto de todos, a CBD confirma a partida do Cruzeiro para Belo Horizonte, na quarta-feira, e a do Galo para quinta, no Serra Dourada.

Imediatamente, após o anúncio, as direções do Atlético e da FMF se reúnem e divulgam comunicado dizendo que se a partida fosse confirmada para Goiânia, o Atlético estava fora do campeonato. Além disso, a FMF comunicava que a Seleção Mineira juvenil também se retiraria do campeonato nacional. O raciocínio para o protesto do Atlético era o seguinte: Inter e Cruzeiro, por terem sido campeões das suas chaves, jogariam duas partidas em casa e uma fora e o oposto ocorreria com o Atlético e Goiás. O clássico havia sido mando do Cruzeiro, que ainda jogaria com o Inter em casa e o Goiás fora. O Inter jogaria com Atlético e Goiás em casa. Restava ao Goiás o jogo contra o Cruzeiro no Serra Dourada e ao Galo, o jogo contra os goianos no Mineirão. Sendo assim, a CBD cometera enorme injustiça ao mandar o Atlético jogar em Goiânia.



A crônica esportiva mineira apontava como principal razão para a súbita mudança da tabela por parte da CBD, o apoio da federação goiana de futebol ao então presidente da confederação, o almirante Heleno Nunes, que seria candidato ao posto de presidente da futura CBF contra Giulitte Coutinho.


A confusão durou pouco mais de uma semana, com uma luta de liminares e pleitos na justiça. No fim das contas, o Inter entrou com um mandado de segurança no Rio de Janeiro através do qual o juiz cassava a liminar obtida pelo Atlético e estabelecia um prazo para que fosse fixada uma caução em dinheiro para resguardar os direitos do Galo, caso este fosse vencedor em seu pleito. A direção do Atlético se deu por satisfeita e considerou que obteve uma vitória, pois entendeu que receberia a parcela da renda das duas partidas não realizadas que caberia ao clube. A torcida, que não queria dinheiro, se frustrou. Aliás, se o dinheiro veio ou não veio, é assunto para outra pesquisa.

Um comentário:

vinicius disse...

Normal, mais uma descoberta de um outro título sem respeitabilidade deles...

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