31 de mai. de 2013

Com o pé esquerdo

Atlético 1 x 1 Tijuana

Ainda na tarde de ontem eu conversava com um amigo sobre as dificuldades que eu previa para a partida contra o Tijuana. "Nada mais difícil do que um jogo ganho", afirmei e ele, já tendo vivido poucas e boas com o seu Internacional, concordou. Não bastasse o otimismo exacerbado da imprensa, que não considerava a equipe de Turco Mohamed um adversário a altura do Galo, a torcida, não satisfeita com a mística do Independência, resolveu aumentar a pressão do caldeirão com máscaras e mosaicos - o tipo de presepada que abomino.

Para piorar, no início da transmissão vejo aparecer um torcedor usando um sombreiro e fazendo "4 x 0" incessantemente com as mãos. Imediatamente me veio aquela imagem da torcida do Vitória com fantasias e frangos de borracha se exibindo para a tv antes de levar estrondosos 3 x 0 em pleno Barradão pela semifinal do brasileiro de 99. "Isso não vai acabar bem", pensei.

E o jogo começou muito mal para o Atlético: os Xolos marcaram a nossa jogada de saída de bola e quase anotaram o primeiro tento aos 16 segundos. Logo depois o Tijuana teve um gol bem anulado e, não demorou, abriu o placar em um lindo chute de Riascos. O Galo pareceu reagir e ensaiou uma pressão. O jogo, entretanto, teimava em não fluir - e desta vez não teríamos a grama sintética e a longa viagem como desculpas para a má atuação.

No fim do primeiro tempo, Ronaldo cobrou uma falta e Réver, sozinho, completou para o fundo do barbante deixando tudo empatado e nos devolvendo a vaga para a semifinal. "O time tá muito mal e não dá para confiar em apenas se defender quando um gol pode te custar a classificação. Se o Riascos tivesse marcado aos 40 do segundo tempo, estaríamos liquidados!", falei para a minha esposa. Ela, cansada de luta, resolveu ir se deitar.

O segundo tempo começou e as nossas esperanças de que o Cuca resolveria tudo nos vestiários começaram a se desfazer. Um Tijuana tranquilo em campo criava oportunidades contra um Atlético nervoso e desarticulado que não conseguia encaixar um contra-ataque sequer. Na sala, apenas com a companhia das memórias de 35 anos torcendo pelo Galo, a certeza de que o caldo iria entornar no fim só aumentava. Aos 44 minutos Ronaldo conseguiu articular uma excelente jogada pelo meio e lançou Luan em profundidade, o garoto invadiu a área e chutou em cima do goleiro. A angústia aumentou.

Aos 46 o Atlético ainda detinha a posse de bola, tocando de pé em pé na intermediária adversária. Inesperadamente, Tardelli resolveu virar o jogo e lançou Luan que buscou uma tabela com Alecssandro. O lance deu errado, o volante mexicano recuperou a bola e recuou para um companheiro que deu um chute para a frente buscando o centroavante grandalhão que acabara de entrar. O gigante, tal como Jô na jogada mais manjada do Atlético, ganhou de Réver pelo alto e a bola foi em direção à grande área. Leonardo Silva perdeu na corrida para Marquez e o chutou junto com a bola, cometendo a penalidade máxima e determinando aquele que seria o último lance da partida.


Victor efetuando o maior milagre da história recente atleticana

Naquele momento, sentado sozinho no sofá da sala, vivendo o auge da minha irritação com a apatia e o despreparo psicológico do time, comecei a pensar em como o futebol era previsível e em como eu estava certo em acreditar naquele gol contra a gente no fim. Riascos, o nosso carrasco, pegou a bola e botou na marca da cal. Victor, com toda a sua seriedade, aguardava sobre a linha do gol. O colombiano correu, bateu e Victor, milagrosamente, mandou a bola para a linha lateral com a sua perna esquerda. Não corri, não pulei e nem gritei - só ouvia o desgraçado que narrava o jogo pela Sportv dizendo que o juiz havia mandado a cobrança voltar. "Não pode ser verdade, não pode ser verdade". E era verdade: havíamos conseguido a classificação para as semifinais na marra! No último lance!

Ainda fiquei cerca de uma hora ali na sala, sentado, refletindo sobre o que havia se passado. Tudo aquilo que temíamos havia acontecido: o bom jogo que vínhamos apresentando abalado pelo excesso de confiança, pela soberba, pela apatia e, em especial, por um adversário que mostrou muito empenho e muita dedicação e que rendeu mais do que a gente nas duas partidas. Um amigo escreveu que dado o clima de "já ganhou" que havia na cidade, o que vivemos ontem foi uma lição e tanto, foi pedagógico e mostrou que a Libertadores não era tão fácil como dava pinta de ser até então. Sou obrigado a concordar com ele. Teremos 33 dias para refletirmos sobre o que houve e recuperarmos o bom futebol para chegarmos com força total à Argentina.

Esta manhã o meu irmão, que esteve presente no estádio, mandou um email contando que o sujeito que estava ao lado dele desmaiou quando o Victor defendeu aquele penal e só voltou a si depois de 5 minutos. Acho, sinceramente, que eu ainda não acordei.

2 comentários:

Diogo Bordeguini disse...

Ô LF gente boa. Quarta-feira que vem estaremos juntos no PEGN? Olha só, tenho uma dúvida. Ninguém está falando mais nada de reforços para as semifinais. Eu sei que é difícil contratar agora, mas com os desfalques que temos, não corremos sério risco de tomarmos uma goleada na Argentina?

LF disse...

Rapaz, desculpe em não ter respondido antes. Mas, como eu disse lá no PEGN, concordo que ainda faltam uns 2 reforços para a temporada. Precisamos ver quem sai aí no final da Libertadores e recompor o elenco. Se ficar do jeito que está, acho que precisávamos de um lateral esquerdo e um meia. :)