19 de jun. de 2009

Retrocesso

Pretendia falar sobre o histórico envolvendo Atlético x Santos, porém, esta manhã, fui surpreendido pela seguinte manchete no UOL:

"Por paz, Cruzeiro e Atlético-MG acertam clássicos com torcida única", resumindo: no Campeonato Brasileiro o jogo com mando do Cruzeiro só terá a presença da torcida celeste e o jogo com mando do Galo só terá a torcida atleticana.

Isso me lembra uma conversa sobre as rivalidades em Porto Alegre e Belo Horizonte que tive com um amigo tricolor há algum tempo. Ele dizia: "O gaúcho deixou de pelear e criou o GRENAL". É fato que as rivalidades clubísticas, especialmente locais, foram, se não a principal, uma das principais razões para a popularização do esporte bretão, assim como das paixões que ele desperta - e isso independente do nobre sentimento do "fair play" que tem permeado as relações futebolísticas nas últimas décadas. O que seria do Atlético sem o América e, posteriormente, sem o Cruzeiro? Do Inter sem o Grêmio? Do Bahia sem o Vitória? A rivalidade fortalece e potencializa os clubes. É parte do prazer de se torcer.

Pois bem, dito isso, considero a decisão - se efetivada - uma das atitudes mais antidemocráticas jamais tomada pelas direções dos dois clubes. É um retrocesso absurdo, um desrespeito a história deste evento que faz parte da rotina da capital das Alterosas desde 1921.

O Clássico há muito deixou de ser uma simples partida entre dois grandes clubes para se tornar parte do calendário (e do patrimônio) cultural de Belo Horizonte. Em dia de Atlético x Cruzeiro a cidade respira futebol, se mobiliza para isso e as pessoas, independente de irem ou não ao estádio (decisão que cabe, unicamente, a cada indivíduo e não à diretoria dos clubes ou à polícia militar) contam os minutos para o início da peleja.

Os pacifistas dirão que a irresponsabilidade e a animosidade dos torcedores levaram a esta decisão drástica. Uma espécie de "despacho saneador", como diriam os petroleiros. Infelizmente, adianto que isso não resolve e tampouco ameniza o problema. É sabido por todos (especialmente os que frequentam os clássicos) que os tristes eventos envolvendo violência acontecem nos arredores dos pontos de encontro das torcidas, sejam nos bairros, seja no centro da cidade. No estádio, a presença massiva da polícia militar evita maiores transtornos.

Qual será o próximo passo? Proibir os torcedores de vestirem as camisas dos seus clubes em dias de clássico? No próximo dia 12 de julho, o cidadão usando uma camisa do Atlético não poderá circular nos arredores do Mineirão? É patético.

Curiosamente, não me lembro do ano do primeiro Atlético x Cruzeiro que fui, mas deve ter sido em meados dos anos 80. Lembro-me bem do placar: terminou 2 x 2 e houve 2 gols de pênalti. Desde então, frequentei regularmente o Mineirão nestes dias especiais, fosse com o meu pai, com meus primos ou meus amigos. Há o stress normal envolvendo qualquer evento com um grande público, mas que pode ser diminuído procurando-se chegar mais cedo e com ingresso comprado, nada que qualquer pessoa acostumada a frequentar os estádios não conheça. E, independente dos frustrantes desempenhos alvinegros nos últimos clássicos, é sempre um espetáculo impressionante ver as duas torcidas em ação.

O que estes senhores estão propondo é o mesmo que tomar o clássico do povo. É o início do fim.

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