1 de ago. de 2008

Cães Raivosos

Vasco 6 x 1 Atlético

Devo confessar que até apostei contra o Atlético no bolão, mas acreditava na possibilidade de uma vitória na noite de quinta. Acabei indo a São Januário com três amigos vascaínos, que apontavam o Galo como favorito.

A chegada foi tranquila, torcidas amigas, compramos ingressos e nos dirigimos para as respectivas áreas reservadas nas arquibancadas. Ainda na porta, estabeleci contato com alguns outros atleticanos e entramos juntos. Os primeiros indícios de que a noite seria pitoresca puderam ser observados ainda na revista que a PM fazia após as roletas: gemidos e gritos chamaram a atenção dos rapazes que foram checar junto a um soldado, que portava um aparelho celular, o que estava acontecendo. Não era nada demais, apenas um filme "educativo" - "o sexto", contado com orgulho pelo dono do aparelho.



Nem bem me posicionei e o juiz deu o apito inicial. Passes errados para lá, passes errados para cá e gol do Vasco numa falha bisonha da defesa alvinegra. O gol de empate veio logo e tive a impressão de que o equilíbrio havia sido alcançado e o time deslancharia. Mas, ao contrário, o time continuou parado em campo vendo o adversário anotar mais cinco tentos e estabelecer o vexatório placar de 6 x 1 antes dos 20 minutos do segundo tempo. A apatia era total, o treinador Gallo ficava parado onde estava, não falava, não agia, não dava mostras de fibra. Talvez movidos pelo senso de amizade entre as torcidas o Vasco resolveu dar uma aliviada, felizmente.

Ao longo de todos esses anos acompanhando o Atlético acredito nunca ter visto um time tão apático e sem gana. É difícil descobrir o que acontece nos bastidores para que esse tipo de atitude seja visto em campo: os salários estão em dia? O Gallo estava sofrendo um boicote? Não faço idéia. A única coisa que eu sei é que a culpa da situação ter chegado aonde chegou é única e exclusiva da diretoria do clube. Não é culpa do treinador e tampouco dos jogadores. O elenco é fraco? Sem dúvida. Mas, quem o contratou foi a diretoria. Idem para o técnico. A verdade é que todo torcedor parte de um pressuposto que é falso quando analisa o desempenho da sua equipe: o de que a gestão do clube é conduzida por torcedores como ele, pessoas de boa fé cujo único objetivo é o sucesso dentro de campo.

Torcer para o Atlético é uma doença incurável, já me conformei e não tenho a menor intenção de agir no sentido de mudar isso. Entretanto, aquilo que eu vi ontem no estádio não foi o time que despertou a minha paixão ainda garoto e que me motiva a gastar cerca de duas horas, duas vezes por semana, na frente da tv ou sentado no cimento. Começa por aquela camisa horrorosa do centenário, continua pela absoluta falta de coragem e fibra dos onze jogadores em campo e do pateta do treinador no banco de reservas e termina na sede de Lourdes onde, supostamente, estaria um presidente (me parece que está de férias no momento) e toda uma fileira de canalhas que se apoderaram do clube e, deliberadamente, impõem um sofrimento infindável aos milhões de torcedores por todo o país. Tenho muita pena da instituição, que acaba ficando manchada pelo desleixo dos incompetentes que a comandam. No entanto, não saí chateado do velho estádio em São Cristóvão ontem, pois não reconheci o Atlético naquele amontoado que vi em campo e que, portanto, não merecia nem mesmo o meu sentimento de derrota.

Outro ponto que merece ser destacado é o fato de a maioria da torcida ter se mandado logo após o quinto gol e eu ter ficado por ali, com uns poucos "gato-pingados" esperando meus amigos vascaínos para irmos embora juntos. De qualquer maneira, o ponto alto da noite estava reservado para o final: no caminho para o portão da saída, um rotweiller da PM atacou um pastor alemão, seu irmão de armas, e apesar da saraivada de chutes na cabeça dados por seu comandante, continuou destroçando implacavelmente o traseiro do seu adversário. O imbróglio só foi resolvido alguns minutos depois com a chegada de um outro soldado armado com spray pimenta, o qual acabou convencendo o cão raivoso a libertar seu oponente.

No portão fui saudado pelos companheiros vascaínos, que se propuseram a me pagar a entrada, o transporte e as bebidas em todos os jogos do Vasco no Rio, pois eu havia trazido boa sorte para o clube. Azar o meu. Aguardemos o domingo.

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