2 de fev. de 2013

A era dos mosaicos

Com as recentes inaugurações do Mineirão, do Castelão e do novo estádio do Grêmio e a proximidade da entrega das novas arenas para a Copa do Mundo, a imprensa esportiva passou a dar mais ênfase às discussões a respeito das mudanças no futebol brasileiro. Fala-se do preço dos ingressos, do incremento no conforto, do estacionamento, da área VIP, dos telões de alta definição e das lanchonetes e restaurantes. Tudo uma maravilha, realmente.

Estas mudanças, entretanto, não são nenhuma novidade para quem acompanha o futebol e frequenta os estádios com alguma regularidade. Acredito que o marco inicial deste movimento foi a adoção da fórmula de pontos corridos para o Campeonato Brasileiro em 2003 e a sua consolidação definitiva se deu pela confirmação da escolha do Brasil como país sede da Copa do Mundo de 2014. A partir daí, o modelo pensado pela FIFA para o futebol passou a ser oficialmente implantado no país.

Tendo acompanhado o desenvolvimento deste processo ao longo do tempo, a impressão que eu tenho é a de que este modelo nunca levou em consideração o torcedor frequentador dos jogos do seu clube, mas sim o novo torcedor que os gestores de futebol desejam que passe a frequentar as arenas regularmente. Um torcedor com um poder aquisitivo maior, preocupado com o seu assento reservado, com uma vaga para estacionar o seu carro, um local para uma boa refeição e banheiros limpos e organizados. Um sujeito em busca de uma boa opção de entretenimento para o seu final de semana ou sua noite de quarta-feira.

Para que este novo perfil passe a frequentar o estádio, é preciso que o futebol se torne um produto mais abrangente, que seja vendável ao maior número de pessoas possível e que as convença a sair de casa e pagar caro por um ingresso. O primeiro passo são os novos estádios, que acabam sendo uma atração em si. O retorno de vários astros para o futebol brasileiro também contribui, assim como ações de marketing e parcerias para o fortalecimento da marca com lançamento de várias linhas de uniformes, peças de vestuário e produtos licenciados para que os torcedores possam exibir a sua paixão clubística. 

Entendo perfeitamente a opção por um torcedor disposto a gastar e consumir mais. Quem não quer mais dinheiro? A contrapartida neste caso é que o nível de exigência tenderá a ser muito maior. Não tenho dúvidas de que tudo estará bem nestes primeiros dois anos: os estádios são novidade, a Copa do Mundo estará aí e todo mundo quer participar. O problema virá quando os clubes começarem a sentir a pressão dos custos fixos extraordinários destas arenas e da necessidade de se manter uma média de público alta a fim de viabilizar o caixa. Estaria o novo torcedor disposto a acompanhar o seu clube nos momentos de vacas magras ao custo mínimo de 60 reais por evento ou gastando 200 reais mensais em um programa de sócio torcedor? Acho difícil.

Mas voltando à imprensa esportiva, o que tenho notado é uma certa nostalgia em relação aos "velhos estádios" e à "espontaneidade" dos torcedores. Confesso que também me sinto assim e que gostaria muito que uma solução intermediária, que incluísse as diferentes gerações e formas de torcer tivessem sido consideradas no momento oportuno mas, infelizmente, lamento informar que agora já era. Pensando bem, não foi por acaso que os estádios deixaram de ser estádios, sendo rebatizados como "arenas". O fato de as grades de proteção da nova arena do Grêmio terem cedido ao peso da avalanche após o espetacular gol de Elano na última quarta-feira, acabou sendo uma lamentável metáfora acerca da extinção de uma era. Não existe mais espaço para a geral, para avalanches ou para a velha forma de torcer que tanto apreciamos ao longo de anos e anos. As arenas não foram concebidas para isso e ponto final.

Ano passado estive no novo Independência para ver o Galo jogar contra o Botafogo. Achei bonito mas meio mal feito - creio ter mencionado isso no post sobre a partida. Naquela oportunidade falei um pouco com os amigos sobre as mudanças no futebol e na maneira de torcer e mencionei que se a torcida do Atlético passasse a usar mosaicos, coisa que nunca fez parte da nossa tradição de arquibancada, eu desistiria. Pois bem, nas rodadas finais não deu outra: revoltada com a parcialidade da CBF, a torcida passou a exibir mosaicos para manifestar a sua indignação. Foi naquela oportunidade que, resignado, cheguei à conclusão de que o futebol - gostemos ou não - havia definitivamente mudado e entrado em uma nova era. A era dos mosaicos.

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