3 de out. de 2011

Só restaram os fanáticos

Atlético 1 x 1 Ceará

Acostumado a conviver com atleticanos desde o meu nascimento - a família está na quarta geração de alvinegros - sempre achei que a diferença entre a torcida do galo e as outras de Belo Horizonte fosse uma coisa natural ligada ao perfil de cada clube e que encontrasse paralelos nas outras capitais do Brasil. Com a mudança para o Rio de Janeiro, o casamento com uma gaúcha e o trabalho em Curitiba, no interior da Bahia e em outros lugares constatei, para minha surpresa, que éramos diferentes não apenas de nossos rivais belorizontinos, mas de todo o resto. Não falo em termos de fanatismo puro e simples, afinal as arquibancadas vivem cheias em outros estádios, onde as torcidas sofrem e vibram tanto quanto a gente, mas da relação com o clube que, no nosso caso, é quase um membro da família. As pessoas se reúnem na sala de casa ou em um boteco e passam a tarde discutindo os feitos do passado, os erros e as agruras do presente como se falassem de um parente internado com uma doença grave e não de um clube de futebol.

A minha percepção com relação a estas diferenças aumentou quando comecei a viajar por aí e a encontrar pessoas que trajavam o manto alvinegro e, invariavelmente, vinham falar comigo (que, obviamente, também trajava o meu) ou, pelo menos, me saudavam com um grito de "galo" e os punhos cerrados. A coisa acabou ficando mais clara na Bahia: é comum encontrar nas anteparas das plataformas que estamos construindo por lá inscrições deixadas pelos trabalhadores no dia a dia, de mensagens evangélicas a poesias e palavras de ordem. Incrivelmente, a única referência que encontro ligada a clubes de futebol é ao Atlético: "Galo Doido" ou, simplesmente, "Galo!".


Só restou ao atleticano evidenciar a sua paixão

Ainda não encontrei uma explicação definitiva para isso. A história, de fato, tem sido muito cruel com o torcedor do Atlético. A minha geração, que começou a torcer acompanhando Cerezo, Éder, Reinaldo e João Leite e passou a ir aos estádios ao longo da década de 90, viu um time competitivo, que raramente perdia em casa mas que não tinha forças para superar os adversários nos jogos decisivos. Morria na praia e esse nos parecia o pior dos mundos. Me lembro de comentar com o meu irmão a cada derrota em uma decisão naquela época: "A gente só não está pior porque existem o Fluminense, o Inter e o Santos", clubes que, naquele momento, estavam em uma situação pior do que a nossa.

O século XXI chegou e com ele a atual administração que conseguiu a façanha de liquidar a nossa principal característica: um time que era praticamente imbatível em Belo Horizonte e que, neste momento, caminha para nos rebaixar pela segunda vez em pouco mais de cinco anos. Formidável! Devo admitir: "Eu era feliz e não sabia". Para piorar, aqueles clubes que eu considerava nossos irmãos de sofrimento renasceram e hoje são protagonistas no cenário nacional: o Inter tornou-se bicampeão da Libertadores, campeão do mundo e foi vice-campeão brasileiro duas vezes. O Santos é bicampeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil e da Libertadores e o Fluminense é o atual campeão brasileiro, tendo sido campeão da Copa do Brasil e vice da Libertadores.

A minha opinião é que após este processo de, digamos, "depuração" da torcida atleticana, só restaram os fanáticos. O único alento que o atleticano tem hoje em dia é reverenciar o clube, a entidade, e evidenciar isso por onde vai, seja deixando uma frase escrita numa chapa de aço em uma obra no interior do Brasil, seja saudando um estranho vestindo a camisa alvinegra nas ruas de qualquer lugar fora de Minas Gerais. Infelizmente, para compensar a cegueira e a entrega incondicional da torcida, fomos premiados com um exército de beócios na sede de Lourdes. E, quanto a isso, não vejo solução a curto prazo.

Pois bem, falemos do jogo de ontem. No post anterior fiz menção à trágica partida contra o Fortaleza em Belo Horizonte na famigerada campanha de 2005. Não era nenhuma espécie de premonição, apenas queria dizer que o histórico recente do Atlético nos mostra que o time é capaz de superar qualquer expectativa quando se trata de fracassos e misérias. De qualquer maneira, começamos a partida bem, dominando o adversário e conseguindo chegar à meta de Fernando Henrique com uma regularidade que indicava que o gol era questão de tempo. Não demorou e Carlos César, o novo lateral direito, guardou a pelota após boa trama pelo meio. 1 x 0.

Pouco tempo depois o mesmo Carlos César invadiu a área e sofreu pênalti. Olho para a tv e não acredito quando o Magno Alves pega a bola. Incrédulo, comento com a minha esposa:

- "Ótimo! Agora escolhemos o perdedor oficial de gols do time para bater o pênalti!"

Ela, acreditando se tratar de um pessimismo exagerado da minha parte, tentou trazer algum pensamento positivo para a sala. Mas, não teve jeito, o perdedor de gols cobrou nas mãos do goleiro.

- "Não acredito! É, não tem jeito, esse time é mesmo derrotado!", resumiu a patroa. Tive que concordar.

Agora, vamos combinar: com 11 jogadores em campo em um jogo decisivo e você escolhe o Magno Alves para cobrar a penalidade? Lamento informar, mas você é um derrotado! Até o goleiro Giovanni teria feito melhor.

O resultado final todos nós já sabemos. Alguns minutos depois, o Ceará conseguiu articular seu único ataque no jogo e chegou ao empate. Depois disso a partida se transformou em um show de horrores, o Vozão teve dois jogadores expulsos e aos 7 minutos do segundo tempo tínhamos 11 contra 9 na Arena do Jacaré. Cuca, na ânsia de tentar obter a vitória, encheu o time de meias, congestionou tudo e o gol não veio. É verdade que o arqueiro cearense fez defesas incríveis, mas quando você vê que o seu time não teve envergadura moral para superar um adversário direto na briga contra o rebaixamento, mesmo jogando com dois jogadores a mais, a conclusão é a de que o seu destino é mesmo a série B. O que nos resta neste momento é torcer para que esta vaga não seja decidida no dia 4/12 contra o nosso maior rival. Pelo menos desta possível humilhação merecemos ser poupados.

2 comentários:

Anônimo disse...

O único consolo nesta altura do campeonato é ver o arquirrival sem vencer no returno. E acho que vai ser difícil elas somarem muitos pontos até o fim do campeonato.

Mateus

LF disse...

A tabela delas é pior do que a nossa. Vamos de mãos dadas para a segundona inaugurar o novo Independência.