2 de jul. de 2011

Até o fim


Atlético 0 x 4 Internacional

"Como já disse era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim"
Chico Buarque

A parte mais difícil de escrever um texto sobre uma crise no Atlético é não soar repetitivo. Oito anos mantendo o blog, quatro anos escrevendo continuamente, é meio complicado não dizer algo que já foi dito anteriormente. A única coisa que eu consigo pensar agora é na música "Até o fim" do Chico Buarque, mas acho que até esta associação já foi mencionada nesta página.

De qualquer maneira, o que temos a dizer sobre a partida da última quinta-feira? Foi uma repetição da atuação apática vista no Engenhão alguns dias antes, onde tanto a derrota quanto a goleada pareceram iminentes desde o apito inicial do juiz. Difícil dizer qual a razão para atuações tão patéticas: estariam os jogadores abalados psicologicamente? Falta de qualidade técnica? Estão mal treinados? Está rolando mais um boicote? Todas as opções anteriores?

Na realidade, em todas as grandes crises vividas pelo clube de 2003 para cá, encontraremos como denominador comum o nosso atual presidente e sua trupe. Não adianta trocar treinador, trazer jogador, pagar em dia e ter infraestrutura. É preciso ter comando, liderança, e isso está mais do que claro que não temos. 2011 já é uma repetição de 2010, que foi uma repetição de 2005 que, por sua vez, repetiu 2004. Enfim, já estou tão enjoado deste assunto que sequer perdi a minha noite de sono após o vexame no pasto do jacaré.

Mudando de assunto, ontem no aeroporto de Salvador voltei ao mundo real visitando uma banca de revistas. Em três publicações Neymar estava na capa: Placar, Veja e Istoé, com direito a trono e adjetivos monárquicos dos mais variados. É incrível como a sociedade contemporânea vive uma dependência do ídolo ou, para ser mais exato, como o ciclo de produção, manutenção e deposição dos ídolos está cada vez mais curto. O menino é bom de bola? Sem dúvida. Herdeiro do Pelé? Me ajuda aí, né?

De 2002 para cá o futebol tem tomado um rumo que muito me desagrada. Desde que todos assumiram que o esporte é parte da indústria do entretenimento e deve ser tratado e remunerado como tal, as coisas só fazem piorar. De vez em quando, ainda é possível ver algum evento onde consigo enxergar o velho espírito do futebol e o efeito que causa em suas torcidas: a vitória do Santos em 2002, o milagre do Grêmio nos Aflitos em 2005, o Inter contra o Barcelona em 2006 e o comportamento da própria torcida atleticana quando vencemos a série B em 2006 e quando o nosso maior rival registrou o maior vexame da era Mineirão em 2009. Em comum, foram eventos que contrariaram a expectativa geral e resultaram numa explosão de alegria dos torcedores envolvidos.

O que acontece é que a espontaneidade no mundo do futebol está desaparecendo junto com a geral do Mineirão e do Maracanã. Tudo tem que ser planejado, seguir o roteiro, ter camarote vip e ser um "show de transmissão" (de preferência em HD). No Mineirão 2014, deixaremos de saborear o velho tropeiro ou um espetinho de gato para consumirmos um sanduíche de uma rede de fast food qualquer. É isso: mal comparando, o torcedor assíduo está deixando de saborear uma deliciosa comida caseira para se servir de pratos congelados da Sadia. Não me parece uma boa troca. O futebol, para mim, sempre foi a casa da vó, e não uma festa de gala. Pena que vamos perder tudo isso.

2 comentários:

LF disse...

Me lembrei da seleção uruguaia contra gana na copa passada também. Grande feito!

Anônimo disse...

Eu tinha um prof. de cinema que dizia: "O que não pode se tornar mercadoria, não tem existência social". Sociedade do espetáculo...

Marcos Vinícius